Relações Públicas no Brasil x EUA

Será que existem diferenças?

@samyrpaz
4 min readApr 17, 2014

Sempre fiquei muito curioso sobre como o profissional de Relações Públicas é percebido em outros países do mundo. Particularmente a situação das RP nos Estados Unidos me intriga, principalmente por causa de matérias como essa. Trata-se de uma lista da Forbes sobre os empregos mais valorizados de 2013. Gerente de Relações Públicas aparece com uma média salarial de 95 mil dólares por ano, o que resulta em torno de 16 mil reais mensais. Fui pesquisar um pouco mais sobre isso e verifiquei no site da PRSA (Public Relations Society of America) que os salários mais baixos estão em torno de 50 mil dólares anuais.

Óbvio que precisamos considerar as questões socioeconômicas da terrinha do Ivy Lee. Sem dúvidas devem ser raros os gerentes de Relações Públicas no Brasil com salários de 16 mil reais mensais.

Sendo assim, entrei em contato com uma Relações Públicas norte-americana, pois nada melhor do que alguém que vive a realidade para me informar. Conversei com a Rebekah Iliff, pois vinha acompanhando os textos dela no Medium. Aconselho a todos os RP que entendam inglês a conferirem os artigos dela, pois são recheados de insights e dicas profissionais.

Quero deixar claro que as minhas perguntas buscavam esclarecer as diferenças contextuais, se elas existem ou não. A prática profissional vai ser igual ou muito semelhante. Nos próximos parágrafos, traduzo as perguntas e respostas, analisando cada ponto da conversa.

Pergunta 1: no Brasil você pode se tornar um Relações Públicas cursando bacharelado. Nos EUA você precisa primeiro cursar um bacharelado em comunicação e depois fazer uma pós-graduação em RP?

Rebekah Iliff: enquanto existem cursos de bacharelado para RP, muitos profissionais escolhem áreas de estudos durante a graduação, incluindo comunicação, marketing, escrita criativa e jornalismo. Estudantes frequentemente aceitam estágios de RP durante a graduação, para potencializar suas experiências e identificar qual área irão atuar posteriormente em horário integral.

Análise: a pergunta era dirigida à definir o nível de formação dos RPs, para identificar como os profissionais se preparam nos EUA. Mas o nível de preparação é o mesmo do Brasil. Os estudantes norte-americanos procuram identificar melhor suas áreas de atuação durante a graduação. Aqui temos programas de estágio também, a única diferença que consegui notar foram as sub-áreas de estudo. Interessante a citação de marketing, escrita criativa e jornalismo. No Brasil estamos mais ligados a comunicação organizacional.

Pergunta 2: no Brasil existe um preconceito sobre as atividades de Relações Públicas, taxando os profissionais apenas como organizadores de eventos. A maioria não sabe do papel estratégico das RP. Devido a este fato, a maioria das vagas de emprego estão ligadas a organização de eventos. Como esse assunto é tratado nos EUA? Quais são as atividades mais comuns ligadas ao profissional? Outras pessoas sabem exatamente o que um RP faz?

Rebekah: infelizmente esse estigma e estereótipo é comum nos EUA também. Aqui na AirPR trabalhamos muito forte para não apenas mudar a conversa sobre o papel de Relações Públicas nos negócios, mas também para educar as empresas da visão holística de RP. Aqui tem uma lista dos maiores equívocos referentes a profissão. E aqui tem um gráfico que define as diferenças da prática de RP e aglutina habilidades complementares e métricas. É uma grande referência para ajudar os clientes a entenderam as muitas facetas do mundo de Relações Públicas.

Todos os créditos reservados para 8PRPractices.com

Análise: ficaclaro que os problemas enfrentados no BR e nos EUA sobre os preconceitos quanto as atividades profissionais são os mesmos. Uma lástima.

Pergunta 3: no Brasil temos uma espécie de competição RP x Jornalistas x Publicitários. Algo semelhante acontece nos EUA?

Rebekah: o que estamos vendo por aqui é a ida dos jornalistas para RP e para marcas (nota do autor: Rebekah fala em brands, por isso traduzi literalmente para marcas. Mas podemos subentender que os jornalistas estão se direcionando para a comunicação corporativa). Eles atuam como editores de notícias internas e produtores de marketing de conteúdo. Jornalistas são maioria em número por RP em uma impressionante escala de 4:1 e a demanda por Relações Públicas de qualidade nunca foi tão grande. Apesar do profissional de RP valorizar e trabalhar pela atenção dos jornalistas, eu não sei quem gostaria de fazer a transição para a mídia (nota: RP para jornalismo). Pelo contrário, estamos vendo jornalistas se movendo para o espaço de Relações Públicas.

Análise: não sei qual a proporção de RP para jornalistas no Brasil, mas imagino que nossos amigos da mídia sejam muito superiores em números absolutos. Creio que perdemos muito espaço para os jornalistas, principalmente na função de assessor de imprensa. Nem vou entrar no debate de quem deve ou não deve fazer essa função, mas a verdade cruel é: jornalistas têm sido mais competentes em conquistar esse filão de mercado.

Com esse recorte das respostas da Rebekah, é possível perceber que temos muito em comum com nossos irmãos norte-americanos. Imagino que outros profissionais de RP daqui e de lá tenham opiniões divergentes sobre o atual panorama da profissão. De qualquer forma, temos um mercado pujante e com muitas oportunidades. Mãos à obra!

--

--

@samyrpaz

Prof. de Relações Públicas (Feevale). Dr. em Comunicação (UFRGS). Pesquisador de Comunicação Digital. Ensina Estratégias de Criação de Conteúdo.